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sábado, 8 de abril de 2017

O Fim da Supremacia Ibérica



A guerra entre Portugal e Espanha provocou uma nova situação diplomática . Os portugueses procuravam concentrar seus recursos na independência do Reino e tentaram firmar uma trégua com os holandeses por dez anos a contar de 1641, de forma a não dispensar  suas forças em duas grandes frentes de combate. No entanto, na América e na África, luso-brasileiros e holandeses continuavam em luta. Em 1641 Nassau conquistou o Maranhão e Angola. As forças luso-brasileiras iniciaram a retomada da região maranhense em 1642, concluída dois anos depois. Apesar dos ataques recíprocos, a guerra não estava ainda oficialmente declarada. Aproveitando-se dos conflitos luso-espanhóis, ingleses e holandeses abocanharam os domínios lusitanos no Oriente . 


Assim, de forma inconstante, as forças portuguesas continuaram dispersas, combatendo em vários  pontos do mundo. A guerra prolongada, as devastações de áreas produtivas, as fugas de escravos e os custos das operações militares enfraqueciam tanto os holandeses quanto os luso-brasileiros. Deixados praticamente  à própria sorte pelas autoridades metropolitanas , os colonos estabelecidos sob o domínio de Nassau também começaram a ter dificuldades com os governantes holandeses. Uma conjuntura de queda do preço do açúcar, sobretudo em relação ao preço dos escravos, diminuiu sua capacidade de obter financiamento para a aquisição de engenhos, escravos e equipamentos. dívidas antigas foram cobradas e as propriedades dos colonos passaram a estar sujeitas a confisco. Esse quadro levou os proprietários luso-brasileiros do recife a iniciar  uma conspiração para expulsar  os holandeses. A insurreição estourou em 1645, um ano após a partida de Nassau para a Europa. As operações militares colocavam  em risco a política diplomática portuguesa. em 1648, com o encerramento da Guerra dos Trinta Anos na Europa, estabeleceu-se a paz entre a Espanha e Holanda, complicando ainda mais a situação de Portugal. Em Lisboa, discutia-se a proposta de ceder Pernambuco aos holandeses. A engenhosa argumentação do principal defensor do projeto, o padre Antônio Vieira, tentava convencer seus conterrâneos de que , controlando-se o tráfico de escravos, controlava-se a produção da América: "porque de Pernambuco não se pode tirar proveito algum sem escravos, e sendo nós senhores de Angola, não podem ter escravos senão pela nossa mão, que  é outro gênero de dependência, que sempre os há -de obrigar a nos guardarem o prometido". Mas para isso era necessário deter a ação dos luso-brasileiros da América.  No entanto, a escalada crescente dos conflitos culminou na surpreendente vitória militar luso-brasileira  na  primeira Batalha dos guararapes, em 1648, em Pernambuco. Meses depois, sob o comando de Salvador Correia de Sá, foram reconquistadas as localidades de Luanda, Benguela e São Tomé, na África. No ano seguinte, na segunda batalha dos Guararapes, nova vitória luso brasileira. Sitiados no Recife, os holandeses foram definitivamente expulsos do Brasil em 1654.  A guerra e os acordos diplomáticos à época da  tiveram Restauração tiveram um preço muito alto para o reino português. Em 1661, firmou-se a paz definitiva entre Holanda e Portugal. Os holandeses levaram suas técnicas de plantio da cana e de produção do açúcar para as Antilhas , onde disseminaram as atividades canavieiras em suas próprias possessões e até mesmo em domínios ingleses e franceses. A concorrência antilhana foi outro duro  golpe na abalada economia portuguesa. Isolado do ponto de vista da política internacional_ até o papa recusava-se a reconhecer a sua independência- , Portugal acabou estabelecendo acordos com a Inglaterra , que lhe garantiram algum militar necessário para enfrentar as forças espanholas. Em troca, os ingleses obtiveram concessões para abastecer os mercados portugueses com suas manufaturas, o que significou o rompimento do monopólio português sobre suas possessões. Além disso em 1662  foram cedidas aos ingleses Tânger- marco inicial da expansão portuguesa no Norte da África,  conquistada por D. João em 1415- em Bombaim, na Índia, como dote de casamento de dona catarina de Bragança, filha do rei D. João IV, com Carlos II, rei da Inglaterra. Era o momento mais difícil da história portuguesa desde o inicio da Idade Moderna. Em 1668, quando se encerraram definitivamente as lutas entre Portugal e Espanha , os dois reinos já haviam perdido a supremacia internacional e passaram a constituir peças de uma disputa que opunha Inglaterra, Holanda e França. O império português ficava quase à mercê dos interesses ingleses, o mesmo ocorrendo com o império espanhol em relação aos franceses. Como alternativa à crise e à desorganização do império, foi criada , em 1649, a Companhia Geral de Comércio do Brasil. Constituída por capitais particulares , sobretudo de cristãos -novos portugueses  e estrangeiros residentes em Portugal, destinava-se a proteger a navegação atlântica e a atrair recursos para o desenvolvimento do comércio colonial e o custeio da guerra contra os holandeses. Para estimular os investimentos particulares , foram oferecidas isenções tributárias, concessões para a construção  de navios e garantias de que não haveria confisco de bens dos cristãos-novos. No entanto, grupos mais conservadores da sociedade portuguesa acabaram por alterar  as características da Companhia, derrubando as garantias dadas aos cristãos-novos e transformando-a , em 1662, num órgão da administração pública portuguesa denominado junta do Comércio , que acabaria extinto em 1720. na aristocrática sociedade portuguesa do Antigo Regime, o conservadorismo sócio-religioso era mais poderoso até que os adversários europeus.


Fonte: A Escrita da História - Flávio de Campos e Renan Garcia Miranda (Página 238-239)



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