"Celebrar o Natal é uma tradição. As chances, contudo, de Jesus de Nazaré ter nascido num dia 25 de dezembro são uma em 365. O registro mais antigo de uma celebração de Natal remonta a 336 d.D. O 25 de dezembro foi escolhido com base no seguinte raciocínio: o mundo foi criado em em equinócio de primavera (25 de março) [No hemisfério Norte], logo esta também foi a data de concepção do filho de Deus. Somam-se nove meses e chega-se a 25 de dezembro. Esse raciocínio não esconde uma certa esperteza. Uma das mais populares festas romanas, a Saturnália, ocorreria entre 17 a 24 de dezembro. Outro festival muito popular , especialmente entre os legionários da Ilíria (Balcãs), era o culto a Mitra, o deus iraniano [persa] da luz, cujo aniversário era celebrado em 25 de dezembro , o soltício de inverno [no hemisfério Norte]. Ao fazer o Natal coincidir com essas festas tão populares, o cristianismo dava um duro golpe na concorrência e preparava o terreno para tornar-se a principal religião da Europa. O próprio imperador Constantino , antes de sua conversação , era um devoto de Mitra. Outros elementos natalinos também foram emprestados de outras religiões. A troca de presentes , por exemplo, era praticada na Saturnália. As decorações com iluminação e sempre-vivas remontam a velhas tradições germânicas. A árvore de Natal é mais recente. Tem origem entre os germânicos medievais e simboliza um culto à Árvore do Paraíso. O Papai Noel foi inspirado em São Nicolau de Mira , que , segundo a lenda , distribuía presentes para crianças no Natal. Esse sincretismo que cerca a celebração do Natal contribui para que essa seja uma das mais populares festas do mundo. Mais do que o nascimento de Jesus Cristo, portanto, o Natal celebra a mensagem de Cristo: paz, amor ao próximo, solidariedade , igualdade. Pelo menos uma vez por ano, é lícito sonhar".
Editorial. Folha de S.Paulo,25 dez. 1995.
